27/12/2008

Jorge Vieira Cardoso - Menção Qualidade poesia

22/12/2008

SORTILÉGIO


(poesia no olhar---foto de ivone peoples)


poderia decifrar poemas entre os teus olhos que me acolhem

deveria entre sons recitar o carma do teu encanto e sonhar as entrelinhas de um acaso dedilhado pela fremência da pena

só saberia elevar a inspiração que até mim chega, como abstracto de um sem número de razões deleitadas em versículos de benignidade

que tempo este em que almejo vozear cada sílaba entretida entre nós, numa língua impalpável, sarau de canto nas tuas janelas

o mesmo tempo em que as palavras se torcem moldadas e graciosas aos elos da tua corrente como aureola de sonho hoje, nunca como utopia arrastada à mendiguisse migalhada





solto em desposo, cedo cada sentido na metáfora das cores prostradas a teus pés, desfolhada de pinturas rosas ao cândido do teu *REGAÇO*.

02/12/2008

Nova Aldeia NATAL


CONTO DE NATAL

Na aldeia de nome “Escura”, o sol estava baixo, assim como a alegria das pessoas. Murmurava-se entre as esquinas, nos arruados dos passeios e nas costas do vento o aproximar de um Natal escuro. Tudo vai mal naquele local, que vê o mar fugir-lhe pelos cantos dos olhos lacrimejantes.
A crise que se arrasta deturpa o pensamento e mistura uma caldeirada de nada, nas mãos que há tanto tempo abertas se fecham empunhando o rosto do descontentamento. Avalia-se a vida numa educação que viciou o transbordo das margens e calçou palmadas de luvas incolores. É o rosto sério e incrédulo de um Natal por acontecer, nas almas das gentes oriundas da aldeia escura. O clique da luz apagada naquela imagem de casa ao fundo da rua e em lado nenhum, na sombra do pensamento, no dia mal iluminado que se deitou a 23 de Dezembro.
Enquanto sofrem os sentidos, queimam-se nas lareiras os desejos de prendas, que não se podem comprar, porque o dinheiro não chega. E as crianças estão tristes!
Numa outra aldeia vizinha de nome “Clara”, tudo é bem diferente, todos sorriem pela aproximação do Natal. As dispensas estão cheias de coisas boas, guloseimas de chocolate, rabanadas e outras iguarias.
Escondidos naqueles cantos estão as prendas já compradas para todas as crianças. Lindas bonecas para as meninas, carros rápidos e a pilhas para os rapazes, assim como todo o tipo de jogos para as consolas. E que grande quantidade de tudo aquilo que as crianças querem e não querem!
Os pais estão todos felizes já que a vida lhes corre bem e olham para os seus filhotes com gosto de ver o brilho dos seus olhitos.
Também nessa aldeia a noite sucedeu ao dia, desta feita no aconchego das boas casas. Nos pinheiros de Natal as luzes brilham com o contentamento das pessoas de “bem” e o 23 de Dezembro acabou sem sequer se lembrarem das gentes da aldeia “Escura”.
Em dias normais todos os habitantes das duas aldeias se cruzavam nos mesmos caminhos, sem se conhecerem, sem se cumprimentarem. De um lado havia a inveja. Do outro a ideia de que eram seres superiores. Por isso nada de confianças e as intimidades não eram bem-vindas, muito menos aconselháveis!
O primeiro habitante da aldeia “Escura” quando se levantou no dia 24 de Dezembro pareceu-lhe que algo estava errado, mas pensou que seria a sua vista que o atraiçoava devido há idade.
Quebrou o gelo da água depositada numa bacia no exterior da pequena casa e de frente para um improvisado espelho, aplicado num barrote de madeira, desfez a barba. Através daquele pedaço de vidro o Sr. João incrédulo reparou como os campos da aldeia se enchiam de hortaliças desenhando uma verdura jamais vista.
Virou-se lentamente e esfregou os olhos tal o espanto. Tudo era diferente naquele dia, as casas ainda que modestas estavam todas caiadas de branco, as pequenas ruas limpas asseadas e a passarada rodopiava sobre os beirais festejando tal abundância de alimento. Pouco a pouco todas as gentes da aldeia se levantaram e puderam ver com os seus próprios olhos, que um milagre tinha acontecido. Arrancava-se uma cebola e quase de imediato nascia outra, o mesmo se passava com uma couve, com as batatas e sei lá mais o quê.
Todos diziam lá na aldeia que Cristo se lembrara deles e lhes dera tudo aquilo para que pudessem encher as suas dispensas nesse Natal.
Subindo o curso do ribeiro aí a duzentos metros acima na vizinha aldeia “Clara” a D. Filomena levantou-se da sua bela cama, tomou um banhinho e preparou-se para completar alguns doces que ficaram por fazer. Cantarolava uma canção de Natal no momento em que se dirigia para a cozinha. Tal o espanto quando reparou que tudo o que tinha feito nos dias anteriores tinha desaparecido. Assustada e com grande histeria começou a gritar. Marido, filhos e vizinhos vieram aflitos em seu auxílio. Minutos depois todos pensando que tivesse havido um roubo, murmuravam. -Coitados dos Fonsecas!
Só que, quando eles próprios regressaram a suas casas repararam que também as suas dispensas estavam vazias e mais, sem qualquer sinal de arrombamento.
Seria o pior de todos os Natais, dizia-se! Já que os automóveis secaram de gasolina, assim como os próprios postos de abastecimento, sabendo de todas as dificuldades, visto que a próxima cidade estava a mais de três horas de caminho a pé.
Um rumor foi-se espalhando em que se constava que a aldeia “Escura” tinha tudo enquanto eles, agora não tinham nada!
Cheios de receio pegaram nas suas carteiras e dirigiram-se à aldeia “Escura” para tentar comprar alimentos. Tal o espanto de todos pela beleza das ruas, pela quantidade de alimentos e pela boa vontade dos habitantes vizinhos, que lhes ofereceram de tudo e não lhes quiseram o dinheiro, argumentando… aquilo que Deus lhes dera não o iriam vender.
Algo mexeu com os habitantes da aldeia “Clara” e então reuniram-se todos para arranjar maneira de agradecer aos vizinhos da aldeia “Escura”, que a partir desse dia se começou a chamar aldeia de "Natal"! Então em uníssono todos concordaram em distribuir os brinquedos excedentes pelas crianças da nova aldeia "Natal", que radiantes de felicidade brincaram sempre com os meninos e meninas da aldeia “Clara”
Assim aconteceu depois da noite, o dia de Natal, 25 de Dezembro porque a felicidade de todos, em todos os dias, vem na igualdade de Jesus!

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