26/05/2008

Duelo De Perdão

foto de marta ferreira *preenche o meu vazio...



dou o último passo que deixa para trás o mais baixo dos degraus da escada.
foi assim bem baixo que eu me senti quando, no umbral da porta espelhada do banco e no outro lado da rua estavas tu.
olhos vidrados, sem pestanas batendo, fixavas a minha silhueta, que no balanço do espanto te viu e corou.
pensei eu!
pensaste tu!
devia acontecer como nos filmes: correríamos um para o outro e de aperto sufocado rodaríamos numa dança ao centro de nós.
naturalmente “constipados” dos olhos que felicidade brotariam, beijaríamos nossas faces e nossos lábios em que, os teus pés nem no chão bateriam tal a pujança do bailado.
desilusão mútua porque nada disso aconteceu!
já que nenhum de nós tinha feito depósito do perdão, nem sequer pagamos caução, que pudesse redimir o erro do nosso chão…
apenas gradeamos amor nas nossas celas!
os pés queriam ficar!
as pernas desejavam fugir!
no entanto venceu o adeus mudo…
desfocaram-se os olhares!
rodopiaram os troncos!
e voltaram-se as costas…
talvez dois, três, quatro passos e nem mais!
o freio actuou!
ABS estacou!
em simultâneo, como se um duelo de morte se tratasse, viramo-nos um paro o outro, fixamo-nos com os olhos chamejantes de paixão e, com a destreza das mãos que procuram as armas, disparamos o amor.
feridos de uma morte que morreu, curados no rodopio do céu, demos corda aos sapatos, que rasparam excessos. a rua chiou, sob os pneus de um automóvel que reclamou!
quase nos atropelou!
acendemos a luz ao perdão!
depositamos caução!
que a teimosia pagou!
ao som do buzinão, o nosso bailado começou!!!

e não digo mais nada!
*propositadamente em minusculas...
*todos os direitos reservados a jorge vieira cardoso

16/05/2008

Desejos

Autor Luna "...meravigliosa creatura..."


São onze horas e cinquenta e cinco minutos da manhã do dia zero de um ano qualquer, tentei ligar no meu computador à internet, mas não foi possível devido à falta de energia do modem. Então abri uma página do Word, e rabisquei para aqui um pouco daquilo que gostaria de angariar em cada dia, em cada mês, em cada ano!

Futurar não é o meu forte, por isso devo dizer as coisas de uma maneira mais leve, pensadas de uma forma poética, acrescentadas em pilares oscilantes de letras rocambolescas sem a seriedade que nos fecha o semblante e nos remove a paz.

Fazer das palavras o sorriso dos lábios, acompanhado pelo licor das melodias, sentidas num alargar do coração, oferecido em palmas de sobriedade humana e descontraída, num arremessar de peito aberto ao momento de olhar para nós e ver o sossego da montra espelhada em solidariedade fiel e singular.

Fazer de nós o local do mais comum, onde as bocas secas acorrem para beber da nossa água não inquinada, sadia e descalcificada em soltas partículas refrescantes, e viver. Viver da vontade própria de ter alguém por perto soletrando os nossos passos, ancorando a sua presença içada nas refrescantes ondas da brisa que o vento nos aproxima.

Continuar a marcha numa aura fresca de tempo de espera já passado, em que os olhos de ontem não são os mesmos de hoje, isso fará dos corações o aproximado das vontades de usufruir da senha própria de abrir a mente à coerência da cor e restabelecer a pujança de estar vivo nas cordas do trapézio para o triplo salto da vida.

Chegar àquele lugar onde os contentores transportam a felicidade de ter sido, o tom colorido do objectivo, entrar pela sonda do radar e continuar, continuar este périplo pelos caminhos das diferenças exemplificado nas maiores das crenças da vida para além do nada.

E no acompanhar do projecto seguir na vanguarda do mesmo em salutar resolução do espaço, onde o corpo sente o que vai na terra e na “corrida” do momento, dar largas ao pensamento de debicar aqui e acolá bocados de alma escrita e reflectida na senda da sombra onde te quero ver e olhar de alto a baixo em simples momentos de lucidez.

Chorar os teus olhos e rir o teu encanto, num afrouxar de tensão rubricar a chama que aquece o semblante da fronte, alisada em lindas faces protegidas pelo elixir do miraculoso creme da eterna juventude.

Historiar um dois mil e…, acrescentado de anos sem número, fazendo a escapatória da estrada, entrar por lá dentro desafogando as imagens que nos fogem no sereno luar de noites em harmonia com o dia - e amar.

Revirar hora a hora a procura de entrar de alma nua pela rua, sem camuflagem de escorpião, subir às árvores das vontades alucinando verdades e mais verdades, numa escola de passos diários, reaprendendo a infância numa inocência imortal, na conquista do bem e na demolição do mal.

E aí seremos asas, seremos albergues, onde as mágoas se virão aquecer do frio, desfeitas no calor destas lareiras, onde se queimam os pecados, pesados de gelo, aqui derretidos pelo amor do luzeiro e desmembrados dos braços do medo.

Será aqui neste lugar sem nome, onde se aniquilará a fome, num trajecto de aves que sonham com um Céu ilimitado de ar, onde respiraram todas as nações, numa esfera sem poluição, dita terra do hemisfério, não só minha, não só tua à espera de quem lhe estenda a mão.

Este sonho, bem que poderia ser real, se todas as querenças deixassem de ser apenas desejos de alguns. Transformaríamos o clima do ácido em clave de Sol, aprenderíamos o Dó do sofrimento menor, e com o Ré remaríamos para a frente acompanhados pela boa gente, do Mi melodiosos seríamos aqui, do Fá faríamos renascer a vida aqui e Lá, com o Si seríamos existência intensa e assim os ruins transformar-se-iam em deliciosos aromas desencapados das suas sombras, teríamos todos o mesmo calor, o mesmo valor e viveríamos num Mundo melhor!

A flauta dava-nos toda a alternativa das notas, Dó Ré Mi Fá Sol Lá Si, num entusiasmo harmonioso pela música, estaríamos aqui, bem dentro do nosso valor, e capacitados de todo o Amor converteríamos este Mundo em “Sol” Maior.


Foram leves estas palavras despidas de falsos e espinhentos cactos, e como a mensagem é esta; de suavidade dita no início do tema “os pilares são frágeis” mesmo assim foi apenas imaginação de boas sementes atiradas ao vento na espera que caiam na tua sementeira, para depois ser espigas desfolhadas por todos na nossa imensa eira.


*Todos os direitos reservados a Jorge Vieira Cardoso *

08/05/2008

Vida e…Morte

*Autor de imagem Renato Brandão-ao encontro do imaginável existente


ai de ti que és eterna.
que nas tuas sugas vampíricas
alimentas e logo secas as minhas cavidades onde devoras a noite

ai de mim que sou efémero
no rebento do útero nasce por vezes o brilho, sim!
o desalento oculto cai do teu escuro, e… fim!

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