27/02/2010

EFEITO BORBOLETA

Vento tão calado, intolero-te dentro de mim. Águas férreas corroem as minhas paredes internas, calo-me porque as palavras são de quem as conhece, obedeço-me porque não me sei contrariar.
Todo eu sou trauma…incendeio a minha pele a cada toque teu, salivo suor, a cada sono que não me adormece, estremeço na órbita, ou na falta de oxigénio, penduro a minha vontade, porque o arrasto fica próximo.
Todo eu sou trauma…mesmo quando fui criança um dia… já lá vai o tempo fundido no hoje, como passado que nunca passa, esmago os dias na crispação das minhas mãos gastas, nado no meu perfume desvirtuado e alimento-me de febre.
Todo eu sou trauma…parte carrossel, que não me apanhas, no trato mel, que não me encontras. Canta na tua senda por onde nunca me vi, e pernoita no lado dentro, onde eu não entro…
Todo eu sou trauma…foge do meu toque, ignora a minha sombra, muda de lado na rua, o vento que me sai, é desalento e actua, é intento nauseante, tão constante…
Morre-me nas minhas cábulas, antes que eu nos morra sem alma, já que todo eu sou trauma…

Texto baseado no filme com o mesmo título.

22/02/2010

IPO “As sombras do Hospital, também têm vida…”

Pressionei a caneta, tinha de escrever sobre…Dei um jeito à dor de costas e apliquei os sentidos em cima de algo…
Invisível é o coração quando tenta remediar as inflamações da nossa sede de cura.
Invisíveis são os passos e em viés são as mãos, que se abrem na tentativa de nos curar.
Os corredores estreitam a passagem da mente, as salas fornecem espaço e utensílios, que a mão humana usa. Os quartos gravam nas paredes o som das cicatrizes e libertam o odor da indisposição.
Espreitei uma porta e vi o enjoo, ainda era jovem tal dona, estava ligada a uma máquina, “quimioterapia” “radioterapia”, não o sei bem!
Andei mais um pouco…“faz-lhe bem andar!” Ora sorrindo, ora filtrando desconforto, falavam aquelas figuras de bata branca!
Ao fim do corredor altos berros indiciavam que mais alguém sofria…desviaram-me os olhos e encaminharam-me até outro lado. Entrei no elevador, subi e desci… Crianças, não é possível! Como foi que Deus se esqueceu delas? Porque é que a pretensa cura os horroriza?
Tenho de chegar rápido ao meu quarto, preciso de me ver…Tenho de apagar os nódulos mentais que avivam o meu receio!
Rodam as rodas da cama, a coberto do lençol um corpo se despede, resignado ou não, encosto-me às paredes e deixo-o ir…
Arrepio-me…tão sofrido cá cheguei, mas só me via! A minha dor parecia única, a mais autêntica!
Tão longe da verdade vão os nossos sentidos! Tão longe e tão nossa aquela dor, que como protecção aferrolha os nossos olhos!
Hoje sei que me vens visitar, pedia-te que me levasses daqui embora… mas não o faço, quero que me vejas num novo EU!
Anda cedo, preciso de partilhar contigo tudo o que puder… de uma vida quase mágica, que a cada passo nos empresta mais alguns segundos.


Carta de alguém que no meio de tantos regressou à vida dizendo… aqui retorno… com novas “ferramentas”, para cultivar pequenas flores de uma existência, feita de segundos…

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