27/12/2008

Jorge Vieira Cardoso - Menção Qualidade poesia

22/12/2008

SORTILÉGIO


(poesia no olhar---foto de ivone peoples)


poderia decifrar poemas entre os teus olhos que me acolhem

deveria entre sons recitar o carma do teu encanto e sonhar as entrelinhas de um acaso dedilhado pela fremência da pena

só saberia elevar a inspiração que até mim chega, como abstracto de um sem número de razões deleitadas em versículos de benignidade

que tempo este em que almejo vozear cada sílaba entretida entre nós, numa língua impalpável, sarau de canto nas tuas janelas

o mesmo tempo em que as palavras se torcem moldadas e graciosas aos elos da tua corrente como aureola de sonho hoje, nunca como utopia arrastada à mendiguisse migalhada





solto em desposo, cedo cada sentido na metáfora das cores prostradas a teus pés, desfolhada de pinturas rosas ao cândido do teu *REGAÇO*.

02/12/2008

Nova Aldeia NATAL


CONTO DE NATAL

Na aldeia de nome “Escura”, o sol estava baixo, assim como a alegria das pessoas. Murmurava-se entre as esquinas, nos arruados dos passeios e nas costas do vento o aproximar de um Natal escuro. Tudo vai mal naquele local, que vê o mar fugir-lhe pelos cantos dos olhos lacrimejantes.
A crise que se arrasta deturpa o pensamento e mistura uma caldeirada de nada, nas mãos que há tanto tempo abertas se fecham empunhando o rosto do descontentamento. Avalia-se a vida numa educação que viciou o transbordo das margens e calçou palmadas de luvas incolores. É o rosto sério e incrédulo de um Natal por acontecer, nas almas das gentes oriundas da aldeia escura. O clique da luz apagada naquela imagem de casa ao fundo da rua e em lado nenhum, na sombra do pensamento, no dia mal iluminado que se deitou a 23 de Dezembro.
Enquanto sofrem os sentidos, queimam-se nas lareiras os desejos de prendas, que não se podem comprar, porque o dinheiro não chega. E as crianças estão tristes!
Numa outra aldeia vizinha de nome “Clara”, tudo é bem diferente, todos sorriem pela aproximação do Natal. As dispensas estão cheias de coisas boas, guloseimas de chocolate, rabanadas e outras iguarias.
Escondidos naqueles cantos estão as prendas já compradas para todas as crianças. Lindas bonecas para as meninas, carros rápidos e a pilhas para os rapazes, assim como todo o tipo de jogos para as consolas. E que grande quantidade de tudo aquilo que as crianças querem e não querem!
Os pais estão todos felizes já que a vida lhes corre bem e olham para os seus filhotes com gosto de ver o brilho dos seus olhitos.
Também nessa aldeia a noite sucedeu ao dia, desta feita no aconchego das boas casas. Nos pinheiros de Natal as luzes brilham com o contentamento das pessoas de “bem” e o 23 de Dezembro acabou sem sequer se lembrarem das gentes da aldeia “Escura”.
Em dias normais todos os habitantes das duas aldeias se cruzavam nos mesmos caminhos, sem se conhecerem, sem se cumprimentarem. De um lado havia a inveja. Do outro a ideia de que eram seres superiores. Por isso nada de confianças e as intimidades não eram bem-vindas, muito menos aconselháveis!
O primeiro habitante da aldeia “Escura” quando se levantou no dia 24 de Dezembro pareceu-lhe que algo estava errado, mas pensou que seria a sua vista que o atraiçoava devido há idade.
Quebrou o gelo da água depositada numa bacia no exterior da pequena casa e de frente para um improvisado espelho, aplicado num barrote de madeira, desfez a barba. Através daquele pedaço de vidro o Sr. João incrédulo reparou como os campos da aldeia se enchiam de hortaliças desenhando uma verdura jamais vista.
Virou-se lentamente e esfregou os olhos tal o espanto. Tudo era diferente naquele dia, as casas ainda que modestas estavam todas caiadas de branco, as pequenas ruas limpas asseadas e a passarada rodopiava sobre os beirais festejando tal abundância de alimento. Pouco a pouco todas as gentes da aldeia se levantaram e puderam ver com os seus próprios olhos, que um milagre tinha acontecido. Arrancava-se uma cebola e quase de imediato nascia outra, o mesmo se passava com uma couve, com as batatas e sei lá mais o quê.
Todos diziam lá na aldeia que Cristo se lembrara deles e lhes dera tudo aquilo para que pudessem encher as suas dispensas nesse Natal.
Subindo o curso do ribeiro aí a duzentos metros acima na vizinha aldeia “Clara” a D. Filomena levantou-se da sua bela cama, tomou um banhinho e preparou-se para completar alguns doces que ficaram por fazer. Cantarolava uma canção de Natal no momento em que se dirigia para a cozinha. Tal o espanto quando reparou que tudo o que tinha feito nos dias anteriores tinha desaparecido. Assustada e com grande histeria começou a gritar. Marido, filhos e vizinhos vieram aflitos em seu auxílio. Minutos depois todos pensando que tivesse havido um roubo, murmuravam. -Coitados dos Fonsecas!
Só que, quando eles próprios regressaram a suas casas repararam que também as suas dispensas estavam vazias e mais, sem qualquer sinal de arrombamento.
Seria o pior de todos os Natais, dizia-se! Já que os automóveis secaram de gasolina, assim como os próprios postos de abastecimento, sabendo de todas as dificuldades, visto que a próxima cidade estava a mais de três horas de caminho a pé.
Um rumor foi-se espalhando em que se constava que a aldeia “Escura” tinha tudo enquanto eles, agora não tinham nada!
Cheios de receio pegaram nas suas carteiras e dirigiram-se à aldeia “Escura” para tentar comprar alimentos. Tal o espanto de todos pela beleza das ruas, pela quantidade de alimentos e pela boa vontade dos habitantes vizinhos, que lhes ofereceram de tudo e não lhes quiseram o dinheiro, argumentando… aquilo que Deus lhes dera não o iriam vender.
Algo mexeu com os habitantes da aldeia “Clara” e então reuniram-se todos para arranjar maneira de agradecer aos vizinhos da aldeia “Escura”, que a partir desse dia se começou a chamar aldeia de "Natal"! Então em uníssono todos concordaram em distribuir os brinquedos excedentes pelas crianças da nova aldeia "Natal", que radiantes de felicidade brincaram sempre com os meninos e meninas da aldeia “Clara”
Assim aconteceu depois da noite, o dia de Natal, 25 de Dezembro porque a felicidade de todos, em todos os dias, vem na igualdade de Jesus!

22/11/2008

"O Carimbo Dos Anjos" (Dueto)


foto...a poesia do corpo

EU
nem que seja somente o deslizar das vertigens por onde caem as cores das palavras despidas do insípido, e vestidas de cor dos anjos que também pecam...eu quero!

aconteceu porém algures para os lados onde ficam as estrelas, no encanto das mesmas sorri a lembrança de uma aventura estranha, nem sei como dizer, se caem os cometas, ou são as cores que se elevam e depositam nos céus, apenas receio o sol mandão que de um momento para o outro queima o breu por onde passam os flashes da lua.

de onde és tu beleza estranha?

ELA
quisera eu navegar por pontos brilhantes...e no final do caminho descobrir ser somente centelhas cintilantes dos teus olhos.
de onde sou....? não sei...o que sou....um ser de carne e osso, de estômago e coração, de mãos e pés....e principalmente um ser sortudo por atrair joaninha em forma de humano como tu.

para onde vais, constelação húmida?

EU
Aqui me encontras no fantástico circuito onde se fabrica poesia nas linhas de assimetria , num dueto esculpido de dupla face, e até nas missivas depositadas na caixa da magia.

será que te sigo centelha cintilante de pé descalço?

será que és nuvem despejando o teu orvalho em mim?


ELA
não posso ser nuvem, não posso aceitar ser algo quase inatingível....
aceito ser lufada de ar, aceito ser gotas...se tudo isso se desfizer em ti...no teu eu.
duetar (palavra esta que acabo de inventar - perdoa) com magia requer muita química, muita faísca e pés entrelaçados...
ao ponto da química certamente alcançamos...mas...e o resto?
Noto… sinto doçura em tua boca, a forma como se curva quando lapida uma frase rara e a consome em beijos húmidos e aliciantes.
(penso cá para mim....convinha não me viciar)

ELA Beijo leve
EU…o meu beijo segue no sopro do vento!!!



By...Jorge Vieira Cardoso And...Anja Rakas

08/11/2008

"SINOPSE"



atirei sete palavras ao ar enquanto as palmas do meu choro rebuscavam o silêncio farto.

ai de ti mão que seguras a Adaga…

culpado espírito de sinopse entretido no vento.

vem madrugada penitenciar-me que eu acabei de matar a noite!

22/10/2008

POLIDO


Para conseguir interiorizar esta poesia deixo aqui uma dica…suponha que é uma alma em comunicação com a própria sombra, rosto perdido em diálogo polido, gasto, esquecido, dasamado a fútil, insípida na pequenez estrada da sua vida. Só que no final passou sem ser vivida, ouvida!
Moral da história que fantasmas criamos e neles nos transformamos!
Leia devagar…

Polido
espaço aberto, espaço…
corrente do eu…partida
e na vanguarda, o tempo
deixou de ser…importância
perdida!

Polido
gasto para além
de quem?
derrapa, avança
cansa… ou será que…
dança?

Polido
no tempo ou…
no pensamento
porque jaz?
porque adormece?
acontece…não é?!

Polido
porque é bom ter?!
e querer mais… e mais
que mau é ferrar!
a quem? ao outro?!
avança…já não há…
lembrança!

Polido
porque criei e… se calhar…
subjuguei
porque nem sempre…
me sacrifiquei
em afectos…
incertos
para quê?
recua e vê…olha
aquele abraço…
que ficou por dar!
o beijo…
que deixei de…
com ternura…de
beijar!

Polido
textura lisa
rompida apenas
que pequenas…são
as mãos
de quem?
dos corações!
fugidos do…
bem!

Polido
aqui e além…
nas bermas
nem por isso…
o quê?
não?!
se cruzaram…
as pernas humidas
no cio carente
de mim de ti…
da gente!

Polido
desliza, mas não
esbarra!
fugiu a sede
de beber…
de ti
meu perdido
mel fluido!

Polido
rasga…tira…
de mim
o quê?
Não sabes? E acabei de te dizer…
este ser polido sem fim…
e sem prazer!

21/09/2008

Vida Depois Da Morte...




introduzo a chave na ranhura

espasmo vento do meu eclipsar

é o som que o copo da surdina transbordou de luxúria

tlim de estilhaço na vanguarda da eternidade epiloga


volto das catacumbas onde o desmaio é perene...de

olhos esgazeados para ver o escuro de mim...

acordo e grito...

viva a insânia do vento que me trouxe o cheiro da cera em que a vela acesa estrela as minhas asas-de borboleta...

cambaleio e pergunto às vozes que adormecem...

que sol este,
que no negro do fino fumo geme a cera que derrete a meta entre a fronteira invisível da loucura e da sanidade?

será o sol do cílio mental?

17/09/2008

"Ausência e Anuência"








caímos do suplício onde os pregos seguram as mãos
é a lotaria fraccionada de uma dualidade remota
geme a seiva dos olhos separados de nós, em anuência

parece triste o nosso fado?!
porque será?
se o som que oiço é …
apenas o gotejar da torneira ocular por onde pinga a nossa ausência!

26/08/2008

"ÁFRICA COBAIA DO MUNDO"


Sou negra da cor da minha gente, sou bocado de terra cobiçada pelo brilho da jóia, pelo escuro do ouro branco, amarelo, ou negro, pelo lixo que importo, pelas armas que destroem, pela seca, pela sede, pela fome, pela pena. Sou o chão do selvático Globo, sou o teste da ciência, sou o interesse da dor, sou tudo e qualquer coisa mais, sou a cobaia do Mundo, sou terra de negros, sou África.

Esta terra encarnou em mim numa solidão enganadora, na poeira da “sorte” sou a paisagem das quedas de água e do imenso Mar, sou a Jamba decapitada mas ainda verde de um pulmão às cegas, sou as cubatas do colmo seco que me abriga a dor.
Tenho como inoportuna companhia o arruado do imenso lixo, a picada dos mais minúsculos e pavorosos mosquitos, que deixam as mais certeiras mensagens, da cólera, do ébola e outras terríficas doenças, enquanto as moscas depenicam o rosto da sôfrega e débil paz.
Tenho muito lodo aqui mas, a minha pior lama vem do exterior à procura do meu brilho, vem armada de coração ao rosto, não me engana mas atraiçoa a minha gente. Traz a caridade falsa numa mão e na outra o seu bastão. Traz o mel do dia, e espalha a noite do seu veneno.
O que procuram eles neste meu chão? Se não sabem eu respondo mais uma vez! Procuram Diamantes e o meu Ouro, granjeiam clientes para as suas fábricas de armas, depenam o meu solo e testam os meus “ratos” neste imenso laboratório negro, da medicina duvidosa.
E como é tão fácil fazer nascer uma guerra! Basta corromper as sombras, atiçadas em débeis cérebros, propagadas pelas necessidades de possuir algo, nem que seja um brinquedo do ódio como: uma AK-47, uma G3, uma Kalashnikov, um Lança Granadas, umas Bazucas, todas essas armas e mais algumas nas mãos de uma criança soldado, até que, já sem vida deixe de poder carregar esse pesado fardo.
Se Moçambique e Angola já o foram, tivemos Serra Leoa, agora temos Sudão, Darfur, Quénia. São inúmeros os conflitos aqui e ali que vão arrasando as minhas aldeias, enquanto queimam o meu chão.
Eu que sou este grande espaço do Planeta outrora sentia as lágrimas me humedecerem nos lamentos de tanto infortúnio. Hoje é seco esse queixume, como as minhas terras o são. Não isento os meus “filhos” de culpa alguma, são seres carentes das não vontades e são fáceis de embalar num engano da falsificada chama.
Corrompem-se na sede da veleidade, são infames como são os Dogmas da investida saída sabe-se lá de onde, talvez da aparência do baluarte, que cai num arrastar da inocência de milhões de seres, que elevam a heroicidade até ao derrame da última gota.
Sinto o peso dos vossos nadas nos meus caminhos sem fim. São as inseguranças do trajecto que vos levam até ao meu campo, mas no antes sois a caminhada longa na procura da segurança. Andarilhais de um lado para o outro perdidos da paz. Sois refugiados da vontade e dos olhos que me vêem a arder. Sofreis por vós e por mim, porque hoje sou terra de bandidos.
Das cinzas olho-vos nos olhos, recolho-vos na alma e continuo a ser África. África, paraíso da saudade, Continente da colheita roubada e da estrangulada liberdade.
Dou-vos os meus habitats, as minhas longas savanas, coloridas de um grande número de espécime animal. Sei que sou carente de muita coisa e aqui e ali dou-vos fome e sede, mas sou linda, e como eu não há. Sou África da sobrevivência, vou caindo e vou levantando, um pé ali e um braço acolá. Devia ser só paraíso, mas, sou apenas o vosso pior vício.
Direitos reservadso a Jorge Vieira Cardoso*




01/08/2008

"Um Caso"


Foto de NUNO LOBITO

Finalmente encontrei-te no cais em Matosinhos, estava farto de te procurar. Naquela manhã cinzenta olhavas os barcos sem os ver, tinha sido mais uma daquelas noites em que tu, cada vez com mais frequência, rejeitavas o verdadeiro sono.
Tanta gente comentava, que tinhas começado por pouco e agora eras um drogado em alto risco.
Perguntei eu, amigo por que te drogas? Demoraste a responder, mas acabaste dizendo. Será que tudo aquilo que fazemos tem de ter sempre um porquê? Foi a resposta mais seca e vazia que eu esperava ouvir de ti. Mas como não era eu que precisava de apoio, engoli e continuei.
Lembras-te por acaso do tempo de Escola quando um substituía o outro, para que mal algum acontecesse a nenhum de nós, e foi sempre assim, com o decorrer dos anos as aventuras e desventuras fizeram de nós amigos inseparáveis. Se recordas não vai ser agora que vamos deixar essa maldita droga criar asas e elevar-te nas alturas, para de seguida te fazer cair nessa desventura mortal.
Desculpaste-te entre lágrimas e sorriste entre soluços, içaste a muito custo o teu corpo frágil e mal alimentado daquela pedra fria onde te fui encontrar sentado. Disseste-me, obrigado pela tua preocupação e abraçaste-me. Não te disse nada naquele momento, mas falei de mim para Deus, que magro que ele está!
Levei-te a um bar para que te alimentasses, conversamos muito durante todo o dia, divertimo-nos o melhor possível, foi assim nesse dia e noutros que se seguiram. Após semanas já não parecias o mesmo: arranjaste trabalho, já tinhas melhorado a fisionomia, dizias que te ias mudar daquela Pensão imunda, já não te drogavas, enfim, a tua força, conjugada com a minha “terapia” estavam a motivar um verdadeiro milagre, em que a tua recuperação começava a ser uma realidade espantosa.
Era bom demais para ser verdade, porque de um momento para o outro deixei de saber de ti. De novo te procurei por tudo quanto era lado. Andei por sítios onde se concentravam os drogados, perguntando aqui e acolá. Também não disseste nada à dona da Pensão, as tuas coisas ainda estavam no quarto por isso não te tinhas mudado, onde raio te tinhas metido. Confesso que até na morgue te fui procurar.
Sensivelmente um mês depois, toca em minha casa o telefone, eras tu, arrastavas a voz. De repente pressenti o que estava a acontecer. Não saias daí que vou já ter contigo! Disse eu! As minhas pernas tremiam, cheguei ao quarto da dita Pensão e lá estavas tu a um canto, esperneavas-te no chão, desviei um pouco o olhar e só então reparei na agulha a teu lado disfarçada pelo pó. Fui telefonar a um médico, aguardei junto a ti, já mal mexias, ainda disseste, perdoa-me mas foi mais forte do que eu, abracei-te perdido em lágrimas que caíam dos meus olhos em cima do teu corpo para sempre adormecido. Chegou o Médico, nada veio fazer! Tinha sido uma overdose.
Meu Deus, estavas morto porquê!
Hoje digo que, infelizmente há muita gente que sabe a raiva que eu senti e ainda sinto pelos vendedores da Morte!

Passaram-se vinte anos e eu, religiosamente neste dia dezasseis de Outubro relembro esta data fatídica em que uma seringa com dose exagerada te roubou o corpo e deixou comigo bocados do teu alento.
Reabro de novo esta pequena caixa que me foi entregue há duas décadas com os teus pequenos pertences.
Entre esses pedaços de ti, existe uma página amarelada pelo tempo, rabiscada numa poesia tristonha, que me sufoca o pensamento, mas que ao mesmo tempo pacifica a tua alma num soluçar de frases que perdoam a tua fraqueza.
Nessa fraqueza que foi tua, em que essas palavras por ti garatujadas, também são a minha fragilidade consciente, abro de novo a página ao meio e releio, a dor que não mente.




Sinto-me sem forças
Só me apetece esquecer
Não há quem me ajude
Eu só quero morrer


Mas porque demora tanto
Porque me empurram
Já não tenho encanto
Só quero ficar mudo


Cada vez estou mais perto
Que grande altura
Mais um passo incerto
Que amargura



Do precipício eu me aproximo
Pouco a pouco vou caindo
Não há outro jeito
É esse o meu destino


Há gente que ri
Vai haver alguém que chora
Mas da gente que vi
Ninguém me adora


Finalmente chegou a hora
Quem estende a sua mão
Quem me empurrou outrora
Não preciso de compaixão


Já não grito
Oiço palavras
Perdeu-se no infinito
Não conteve as suas mágoas


Já avisto o vazio
Porque demoro a cair
Sinto o primeiro arrepio
Só quero é dormir

Que acabe logo de vez
E não demore a chegar ao fundo
Para parar de sofrer
Neste Mundo tão imundo


Eu sempre quis viver
Mas o vício foi mais forte
Agora não quero mais
Troco a vida pela morte


Enquanto atesto a seringa
Com esta maldita heroína
Penso em ti meu amigo
Regressar já não consigo
Perdoa a minha desgraça
Não chores na minha carcaça
Pede por mim perdão a Deus
Pede-lhe que ele me eleve aos Céus.

Eu anónimo exonero-me nestas palavras.


Dobro de novo o papel em dois e pedaços de nós repousam na gaveta do baú…
vou de férias hehehehehe...

19/07/2008

"Negro Noturno"

Let me Sleep
Leave me Alone


Porque as pessoas idosas são apenas os velhos do nosso abandono.
Para eles que somos nós no amanhã!





Negro Noturno

Os meus passos são como esmolas pedidas na avenida da Cavidade. Caminho clandestino num forçar de portas, sou eu e mais alguém desconhecidos da voz.

Estão rotos os meus sapatos de tanta caminhada em singela “homenagem” ao peregrino desconhecido. O tempo já quase não conta os quilómetros da estrada, avizinha-se tempestade, águas calmas ou nada.

Canto um destino aparvalhado na sorte e no azar da selva, onde são grandes estas vontades e pequenas estas Cidades.

Murmuro a solidão do riso em passadas perras de cansaço, de onde o recanto da rua levanta chama, que aquece as mãos do defeito, num jornal que cobre a minha mancha humana.

O que sobra são tonalidades de um negro nocturno, são candeias de azeite seco na minha torcida, que se mistura com o coma de jornada adormecida.

Mesmo ali, os bidões continuam a arder, ali eu queimo as minhas origens, ali eu faço derreter o perfume da minha descendência, que o “espírito” hipnotiza em golfadas de Botelha, estaladas nuns lábios ásperos da minha equimose vontade de chegar perto da querida saudade.

Sou velho com todas as letras, na senda do desmaio esqueci a dor do raio, a cor de Maio. Sou arcaico das minhas costas, sou a mensagem sem respostas. Ninguém me vê, sou apenas a sombra de uma pesada espécie, que de vez em quando recolhe a pena de ser “coitado” e logo adormece.

No lamento do gasto ser, continuo a caminhar pela última vez até o meu Sol escurecer. Aí paro de certeza. O pesado fardo da família e da sociedade fez-se em leveza. Mas não se entusiasmem demais, serei apenas um a menos a despejar de vós um pequeno pingo do vosso negrume, escondido por grossos óculos de estrume.

Nesse fim de rota não falsifiquem o choro, não sejam cínicos nesta instante, sejam apenas reais como o foram na hora do abandono. Porque o perdão não sou eu que o vou dar, nem poderia ressuscitar, e porquanto os pecados também foram meus. Ilibo-me dessa fumaça, já sou passagem livre pela praça, ergam bem alto a vossa taça, comemorem antes, o apogeu da vossa libertação da traça.

Este texto está no meu livro “Nas Linhas Das Tuas Mãos”


Jorge Vieira Cardoso
Ficção

09/07/2008

"Olhos Que Te Choram"

Foto de TIAGOXAVIER---O Pianista*

Apressei esta públicação por necessidade de procura!!!


"Olhos Que Te Choram"


porquê que choram os meus olhos a inquietude da nossa dor?
porquê que soletramos o tempo em debandada de mácula agreste?
no dormitar da noite que não dorme, os caminhos chorados elevam-me até àquela música da nossa despedida. enquanto mais uma vez os meus pensamentos renovam na incúria a passagem dos “Evanscence” neles clamo um rouco “Hello” e aí…
Ping. Ping. Ping. são lágrimas que caem dos orifícios vigiantes, recolhidos nas nuas trevas.
preciso que me encontres!
peço-te que me procures no baú das tuas lembranças, numa ânsia de inquietação
ali jazem aqueles pedaços dos nossos anais
soterrados na mescla do eterno adeus, portuário da infinidade mórbida
se me encontrares ----s ou-- ----o---- --t eu---- --a mor----- por favor cola os meus bocados…

Ping. Ping. Ping, enquanto não me achas os cílios dos meus olhos são os algeroz que transportam as gotas até à tua morada - em prantos chorados…

Tin tan tin tan tan tan parecem bater à porta, mas não! - afinal, são apenas notas [lamentos] caídos de um piano inquietando a minha solidão! piano esse que mais uma vez repete a nossa música…”Hello”

Todos os direitos reservados a jorge vieira Cardoso
Ficção…



05/07/2008

"Amantes"


Nota de abertura, este texto não pretende fugir ao contexto dos anteriores aqui apresentados, nem tem por objectivo explorar o campo da sexualidade. É simplesmente e como tantos outros mais um dos retratos da sociedade em que estamos inseridos. Nesse campo aparece a minha acção escrita, que incluí os mais variados temas, sobre coisas, sobre pessoas e sobre tudo aquilo que eu gosto de interiorizar e “explorar” de mais variadas formas. E naturalmente pessoas amantes, que traem e misturam outras relações também fazem parte desta mesma sociedade e logicamente do quadro aqui apresentado por mim.
Quanto à foto, penso ser apenas a mais adequada, embora reconheça ousada!
Leiam e comentem! Tenho dito!!!

tropecei na tua sombra caída a meus pés
desenhei a mancha de um ser outrora apagado
no hidrato da tua abundância empanturrei de loucura
na congestão da mesma “morri” e de desejos sorri
no acariciar dos teus seios de novo “morri”

levanto a minha voz embebedo-me do teu perfume e… grito!

descolo a goma que colou o nosso cio – e… fujo!
o arrependimento esbarra na insídia e sobrevive a leviandade
no chamamento após, o paraíso teu amaldiçoou o vicio meu!

o recomeço chega todas as tardes, em que derrubo o muro da vergonha para ancorar na tua sombra, onde tropeço de novo e me lambuzo do teu corpo, onde escondo a verdade e sucumbo à minha - GRANDE FRAGILIDADDE
no final esboço nos olhos arrependimento de algo que não controlo…

ficção
direitos reservados a Jorge vieira cardoso

20/06/2008

Cara-Metade




quatro paredes por onde ecoam os sons destas pinceladas coloridas no intervalo das portas abertas por onde passam as nossas cores.
atravesso a avenida dos teus pensamentos e lá, te ofereço os meus pecados.
entras na gelatina redonda abençoada pela nossa sede e adoças na rotunda do teu olhar, o meu acanhado sorriso.
e nós rebuscados das sendas que flectem à nossa melancolia, corremos na sinuosidade do nosso trânsito corporal em enlaço caprichoso ou somente num singular embate de ideais.
assim continuamos numa mexa de vela acesa soltando odores refrescantes no arruado de uma sala sem divisórias, sem chão, onde o próprio sentido tornou-se impróprio batido.
bebemos desse batido em que o copo transborda “maledicência” de nós, inerentes num projecto caído sabe-se lá de onde e comemorado em singelas taças de charme.
no tablado de nós glorifica-se a rua do trajecto ora macio, ora árduo por onde almoçam os Deuses.



no brinde respiro as palavras que dizem caladas és a minha…[titulo]

09/06/2008

Tatuagem

imagem de-lara pires


desnudo-te nas minhas mãos, para te cobrir de seguida com a página branca.

qual lençol?!... aquele opúsculo, onde desliza o azeite das minhas letras simbólicas no refinado chamamento do "alambique das agulhas".

ali se liquefazem as azeitonas, essas mesmo…
esbatem-se em tinta, com que eu te tatuo.

todos os direios reservados a jorge vieira cardoso

02/06/2008

Socorro




Eu não consigo parar de beber! Sinto que a realidade me tem passado ao lado. E hoje, que mal suporto o peso da consciência, em breves horas de lucidez, quero-vos pedir perdão pelo mal que vos vou causando, a vocês Ex. Mulher e Ex. Filhos.
A garganta inflama-se com as palavras quentes e sufocantes que teimam em não sair, que me vão queimando as células, rebentando-me esta débil cabeça, que cede a pressão no momento em que mais uns quantos copos se derramam goela abaixo, toldando o meu pensamento.
Tudo começou algures um dia bem distante, não me perguntem pois eu não me lembro, se terá sido num dia de fraqueza ou de euforia: vai mais um copo com um amigo, no outro dia mais dois copos com dois amigos, no terceiro dia, já são três os copos, até que as somas de copos transformou-se em multiplicação em que o show dos meus espectáculos, saturou os acompanhantes e eu um a um fui perdendo os amigos, mas como “bónus” ganhei; uma montanha de copos, vazios...
De novo vos digo, pelo que bebi não sei, mas sei por que hoje continuo a beber, para tentar esquecer todo o mal que vos fiz, tentar esquecer a dor da vossa ignorância apesar da vossa razão.
Ainda me lembro de quando éramos inseparáveis: com alguns problemas, algumas dificuldades, facilmente ultrapassáveis, era assim, tínhamos a força de uma verdadeira família: que chorava pouco e que ria muito, que caía por vezes, mas sempre se levantava e cada vez com mais vontade de se afirmar, porque o laço amoroso era forte e destemido.

Neste amontoado de cacos, penso no caos, que a minha vida se encontra e em tudo o que aprontei até hoje, também nesta violência que me cega e desfaz por completo a remota hipótese de remissão que eu poderia ter, culpo-me pela fragilidade e pelo álcool, que me embriaga e me deu esse direito de agredi-los física e psicologicamente, infernizar-lhes a vida de tal modo que, a vossa saturação acabou por me deixar só.

Quantas vezes já atirei a garrafa, cheia, meia, ou vazia contra a parede com toda a raiva, afirmando para mim próprio, que o pesadelo tinha que acabar e que era o último gole. Quantas vezes já pensei o suicídio, no entanto, ainda me lembro, quando a fraqueza perdia para a coragem e agora a coragem momentânea é apenas a fraqueza de um traste.

Hoje a balança avariou tal o peso das coisas negativas, que ganhei; num prato ponho os ganhos: algumas doenças sem solução, vícios sem fim, o desrespeito, o riso para o palhaço, que criou o seu próprio “circo” em que o espectáculo é cambalear pelas ruas, alvo de toda a troça.
No outro prato o que eu perdi: a casa, o carro, os amigos, o respeito e o principal, o que me enlouquece a cada segundo de lucidez, excepto quando tropeço e caio, adormecendo em qualquer parte, carregado de álcool, então acordo e de novo, o principal, aqueles que eu não soube defender e em vez disso: escorracei, pisei, subjuguei e desamei.

A ti Ex. Esposa e a vocês Ex. Filhos, desculpem-me por eu sempre ter pensado que os doentes eram vocês e não eu. Ao aceitar o meu erro quero que, refaçam as vossas vidas, se possível, esqueçam os traumas que vos causei, sejam muito felizes, porque eu amo-vos de todo o coração, mas como todo o coração é pouco, peço-vos de novo, perdão.

Completo agora esta carta, rascunhada há algum tempo atrás, mas que só hoje tem sentido e que envio, não pede pena, apenas quero dizer que estou há três meses sem beber, estou a tentar de novo os AA (Alcoólicos Anónimos), podem pensar que é mais uma tentativa falhada e talvez tenham razão, mas se existe no vosso peito uma ténue, morna, mas boa lembrança de mim, mais uma vez vos imploro, ajudem-me!!..





Ficção— de Jorge Vieira Cardoso

Realidade de alguém, anónimo “sem rosto”

26/05/2008

Duelo De Perdão

foto de marta ferreira *preenche o meu vazio...



dou o último passo que deixa para trás o mais baixo dos degraus da escada.
foi assim bem baixo que eu me senti quando, no umbral da porta espelhada do banco e no outro lado da rua estavas tu.
olhos vidrados, sem pestanas batendo, fixavas a minha silhueta, que no balanço do espanto te viu e corou.
pensei eu!
pensaste tu!
devia acontecer como nos filmes: correríamos um para o outro e de aperto sufocado rodaríamos numa dança ao centro de nós.
naturalmente “constipados” dos olhos que felicidade brotariam, beijaríamos nossas faces e nossos lábios em que, os teus pés nem no chão bateriam tal a pujança do bailado.
desilusão mútua porque nada disso aconteceu!
já que nenhum de nós tinha feito depósito do perdão, nem sequer pagamos caução, que pudesse redimir o erro do nosso chão…
apenas gradeamos amor nas nossas celas!
os pés queriam ficar!
as pernas desejavam fugir!
no entanto venceu o adeus mudo…
desfocaram-se os olhares!
rodopiaram os troncos!
e voltaram-se as costas…
talvez dois, três, quatro passos e nem mais!
o freio actuou!
ABS estacou!
em simultâneo, como se um duelo de morte se tratasse, viramo-nos um paro o outro, fixamo-nos com os olhos chamejantes de paixão e, com a destreza das mãos que procuram as armas, disparamos o amor.
feridos de uma morte que morreu, curados no rodopio do céu, demos corda aos sapatos, que rasparam excessos. a rua chiou, sob os pneus de um automóvel que reclamou!
quase nos atropelou!
acendemos a luz ao perdão!
depositamos caução!
que a teimosia pagou!
ao som do buzinão, o nosso bailado começou!!!

e não digo mais nada!
*propositadamente em minusculas...
*todos os direitos reservados a jorge vieira cardoso

16/05/2008

Desejos

Autor Luna "...meravigliosa creatura..."


São onze horas e cinquenta e cinco minutos da manhã do dia zero de um ano qualquer, tentei ligar no meu computador à internet, mas não foi possível devido à falta de energia do modem. Então abri uma página do Word, e rabisquei para aqui um pouco daquilo que gostaria de angariar em cada dia, em cada mês, em cada ano!

Futurar não é o meu forte, por isso devo dizer as coisas de uma maneira mais leve, pensadas de uma forma poética, acrescentadas em pilares oscilantes de letras rocambolescas sem a seriedade que nos fecha o semblante e nos remove a paz.

Fazer das palavras o sorriso dos lábios, acompanhado pelo licor das melodias, sentidas num alargar do coração, oferecido em palmas de sobriedade humana e descontraída, num arremessar de peito aberto ao momento de olhar para nós e ver o sossego da montra espelhada em solidariedade fiel e singular.

Fazer de nós o local do mais comum, onde as bocas secas acorrem para beber da nossa água não inquinada, sadia e descalcificada em soltas partículas refrescantes, e viver. Viver da vontade própria de ter alguém por perto soletrando os nossos passos, ancorando a sua presença içada nas refrescantes ondas da brisa que o vento nos aproxima.

Continuar a marcha numa aura fresca de tempo de espera já passado, em que os olhos de ontem não são os mesmos de hoje, isso fará dos corações o aproximado das vontades de usufruir da senha própria de abrir a mente à coerência da cor e restabelecer a pujança de estar vivo nas cordas do trapézio para o triplo salto da vida.

Chegar àquele lugar onde os contentores transportam a felicidade de ter sido, o tom colorido do objectivo, entrar pela sonda do radar e continuar, continuar este périplo pelos caminhos das diferenças exemplificado nas maiores das crenças da vida para além do nada.

E no acompanhar do projecto seguir na vanguarda do mesmo em salutar resolução do espaço, onde o corpo sente o que vai na terra e na “corrida” do momento, dar largas ao pensamento de debicar aqui e acolá bocados de alma escrita e reflectida na senda da sombra onde te quero ver e olhar de alto a baixo em simples momentos de lucidez.

Chorar os teus olhos e rir o teu encanto, num afrouxar de tensão rubricar a chama que aquece o semblante da fronte, alisada em lindas faces protegidas pelo elixir do miraculoso creme da eterna juventude.

Historiar um dois mil e…, acrescentado de anos sem número, fazendo a escapatória da estrada, entrar por lá dentro desafogando as imagens que nos fogem no sereno luar de noites em harmonia com o dia - e amar.

Revirar hora a hora a procura de entrar de alma nua pela rua, sem camuflagem de escorpião, subir às árvores das vontades alucinando verdades e mais verdades, numa escola de passos diários, reaprendendo a infância numa inocência imortal, na conquista do bem e na demolição do mal.

E aí seremos asas, seremos albergues, onde as mágoas se virão aquecer do frio, desfeitas no calor destas lareiras, onde se queimam os pecados, pesados de gelo, aqui derretidos pelo amor do luzeiro e desmembrados dos braços do medo.

Será aqui neste lugar sem nome, onde se aniquilará a fome, num trajecto de aves que sonham com um Céu ilimitado de ar, onde respiraram todas as nações, numa esfera sem poluição, dita terra do hemisfério, não só minha, não só tua à espera de quem lhe estenda a mão.

Este sonho, bem que poderia ser real, se todas as querenças deixassem de ser apenas desejos de alguns. Transformaríamos o clima do ácido em clave de Sol, aprenderíamos o Dó do sofrimento menor, e com o Ré remaríamos para a frente acompanhados pela boa gente, do Mi melodiosos seríamos aqui, do Fá faríamos renascer a vida aqui e Lá, com o Si seríamos existência intensa e assim os ruins transformar-se-iam em deliciosos aromas desencapados das suas sombras, teríamos todos o mesmo calor, o mesmo valor e viveríamos num Mundo melhor!

A flauta dava-nos toda a alternativa das notas, Dó Ré Mi Fá Sol Lá Si, num entusiasmo harmonioso pela música, estaríamos aqui, bem dentro do nosso valor, e capacitados de todo o Amor converteríamos este Mundo em “Sol” Maior.


Foram leves estas palavras despidas de falsos e espinhentos cactos, e como a mensagem é esta; de suavidade dita no início do tema “os pilares são frágeis” mesmo assim foi apenas imaginação de boas sementes atiradas ao vento na espera que caiam na tua sementeira, para depois ser espigas desfolhadas por todos na nossa imensa eira.


*Todos os direitos reservados a Jorge Vieira Cardoso *

08/05/2008

Vida e…Morte

*Autor de imagem Renato Brandão-ao encontro do imaginável existente


ai de ti que és eterna.
que nas tuas sugas vampíricas
alimentas e logo secas as minhas cavidades onde devoras a noite

ai de mim que sou efémero
no rebento do útero nasce por vezes o brilho, sim!
o desalento oculto cai do teu escuro, e… fim!

29/04/2008

“Carimbo” “Com Pouca Tinta”

* Foto De Junior Franch



Solicito, que para o bem escolham a natureza das vontades! Introduzidas nas vitrinas com palavras de intelecto!
Venham eles os infames dizer mal, fazer pior e lá se vão as verdades! Lá se vai o amor!
E nunca se sabe a destreza das injúrias!? Bem falsificadas até engrenam lamúrias!
Não é?????????????????

17/04/2008

Tela

Foto de Fernando Figueiredo



Dou-te as minhas faces. Dou-te as minhas asas.

De perfil manto a nossa noite, para que não neve no teu Agosto.

É de transe o licor que embriaga a tez e acumula pétalas lilases de amores.

No sufrágio das contas a matemática dá uma igualdade clara - sem pós levantados - em que a chaneza está fechada – só para nós! Amados…

Por isso é que te entrego as minhas faces e sobreponho em ti as minhas asas. E mais…

Recuso ares de sucata, numa reciclagem incolor e barata.

Recuso amor em desamor, acorrentado em rouquidão suportada, ou intolerada pelo nada.

Recuso frases esquecidas em planícies amareladas, ou em ermidas – abandonadas!

Por isso tudo é que te ofereço as minhas faces e de colchão te aconchego nas minhas asas. Sem retorno… Ao premeditado e privado abandono…


Deixo-me cair...

Sonolento no abrigo de uma lona

Deixo as águas caírem na tela

São tintas multicolores

De cela e de amores

São olhos que se esfregam

Em quedas de água exageram


Na consequência dos actos

Soberbos, ou não

Troco o meu débil céu

Pelo casulo sem telhas

Aos pés do teu chão…


Lambuzo-me de riso-e...

De ti preciso!!!

04/04/2008

Recados ao Vento



Nem que finde a idade, esperarei por ti, afinal tudo vale a pena, esperar, rir, chorar e amar no silêncio em que as palavras brotam o entusiasmo perdido na auréola de um Sol caído.

Ribombam as frases que submergem os sentidos abstractos de um poder medíocre acrescidas de amargura.

Nem os rios já secaram nem os meus olhos choraram grandes cheias que diluíssem as margens. A cada passo fica o rasto de uma impressão, não diria digital, mas sim peculiar e abrangente apenas do um ser mais que comum.

Atiro-me às palavras que teimam em ser engolidas pela fome de querer toda a paisagem à frente do meu olhar. Assim é, que na incredulidade do que vejo, sobressai as tuas formas perfeitas aos meus sentidos, sentidos esses, que não passam de devoradores de alento.

Só eu sei o que me custa entrar por ai dentro vasculhar todos os teus cantos, sem que o meu coração dê voz à minha garganta e permissão para que fale. No entanto e em compensação dou comigo relampejando para o papel palavras de amor, amor e mais amor!

Quando me leres convinha que fosses pura, que na tua nudez embebida em mel, conhecesses o meu sorriso, e que, em cada pequenina letra, me desses um pouco de ti. Aí sim, enrolarias o teu corpo no meu numa procura mútua de conquistar o Mundo.

Selvagens, ou até nem por isso contornaríamos cada olhar que quisesse intrometer nos nossos aposentos de luar. Na barricada transparente adormeceríamos na noite e de pernas enroscadas num silêncio que só ele geme lembranças que falariam de amor. Silêncio esse que chega de todos os cantos dos Céus para descobrir a plenitude dos verdadeiros Deuses. Deuses que não seriamos nós! Mas apenas os frutos de um Deus Maior…

No teu ouvido respiro em bafo beijado o som variante do sonho, que descarrega em cada frase planada ao vento, a simplicidade elevada às alturas onde se encontram as Estrelas. Nelas entrego a eterna palavra repetida em, (cupido escondido: Amo-te! Afundei-a nos Mares e elevei-a até ao teu Umbigo). E repito, amo-te em cada estalo de língua que saboreia o teu corpo.

Se sou guloso? Deixa-me ser, porque a espera foi longa e como as minhas palavras não falam, garatujo nesta folha branca de saudade o que te faria neste momento.

Deixar-me-ia estar para aqui perdido dentro de ti, em que os meus braços aprisionassem os teus, o meu peito afagasse as tuas lindas colinas e os meus lábios calassem cada som que a paixão tentasse soltar das nossas almas.

Mas como Amor é mais do que dois corpos em êxtase. Pegaria na tua mão e subira-mos a todas as montanhas, aí elevaríamos o nosso grito: AMO-TE-Te-Te-te-te-te, o feedback levado pelo vento, chegaria a todas as ruas da Cidade, como veneno puro, ou como remédio Santo. Numa prece de íntima veste

Ajoelhar-me-ia a teus pés

E diria!

Ainda bem que és!

Ainda bem que vieste!!!

Nota de rodapé: em cada palavra que falo, gostaria de ter a mesma certeza como tenho em cada palavra que poetizo, ou proso na página que grita por mim. Como isso não é possível peço à minha gente que me deixe ser assim! É o meu canto! É onde eu me sinto feliz…Obrigado…

25/03/2008

Dez lenitivos

Foto de Rui Lebreiro

Silêncio por favor deixem-no ler, enquanto ele lê, desafogue na minha companhia!


l desabafo
*Quando as palavras se esquecem de rir, choram os silêncios que na intenção perdida submergem o entusiasmo, desfalecem as pernas e recolhem os braços.

ll desafogo
*Nesse retiro negro – fosco, cada pensamento eleva a mensagem dramática, abre os poros ao medo e abafa o nevoeiro dos olhos em drama.

lll confissão
*O espaço é pequeno e fundo, não há corda que nos ice, apenas levantamos os véus que ocultam o olhar dirigindo as “lanternas” meias apagadas até ao topo. E o que vemos? São só morcegos vampíricos à espera de sugar o que resta. E o que resta são sombras, que não parecem gente!

lV exteriorização
*Com piedade de nós próprios mastigamos claustrofobia, transformamos o ar em veneno e o veneno em dor.

V manifestação
*Dói as costas, dói as penas, dói o sabugo no ranger dos dentes quando devoram as unhas.

Vl descrença
*Entre o sono e o defeito, sustentamos as “bestas” do alimento que lhes atiramos, engordando os milhafres do mal, que rapinam em debicadas a nossa carne e aceleram o apodrecer do nosso ser.

Vll culpados
*Todos têm culpa do que nos está a acontecer!?

Vlll interrogação
*Será????????????????????????????????????

lX incerteza
*Ou será que não é bem assim!?

X certeza
*Tudo isto porque, as nossas palavras deixaram de rir!

1-2-3-4-5-6-7-8-9 - De um a nove elevo a fasquia até aos vossos dez sorrisos...

21/03/2008

Lobo


Em cada sol que os olhos da noite vêem, aponta uma volúpia inata de aninhar a lua, extravasada na rua numa claridade pura.

Calo o chio… no canto que a cigarra teima, tiro-lhe o momento que me sucede ao libertar a boca colada na tua pele, deixo-te o meu meloso ao contacto do teu odor gostoso.

Separo de ti as gavinhas e!

Dorme minha pétala, loba perfumada, enrosca-te no teu sorriso, só eu, de guarda escudado, dispo a alma que te aquece e assim cubro a sombra como sentinela ao teu sono.

Nestas muralhas edificadas de eterno, espreito pelas guaritas, de onde aponto as minhas garras como canos cerrados de amor e zelo.

No meu uivo, afio as unhas, lobo as presas, que de alimento espiritual e calórico, alimentam a tua pureza, enquanto fortificam o meu peito de seiva doce.

E porquê?

Porque só tu sabes onde se encontra o ponto X da minha cruzada!

08/03/2008

Palato


Atira-me com esses lábios, desfaz em mim o sal do teu beijo.

Já não sou!

Já não és!

Apenas somos, recados de charme, envolvidos em compressas de queima.

Desejado é o amasso que no enlaço desfaz a palavra louca.

Da bandeja dos teus olhos cai o copo, que derrama o tempero em meu corpo.

Do refúgio da minha alma espreita a calma, que no aconchego dos lençóis, somos um em dois.

O teu calor e o teu sal secaram-me de sede!

Atira-me de novo com esses lábios, faz-me daltónico dessa sede.

Troca a cinza das minhas nuvens, pela almejada timidez do teu verde!

23/02/2008

Divagando



Semicerro as luzes que o cílio cobre, são olhos transparentes que ocultos reflectem a ânsia de ter o Universo e o Deserto por perto, conjugados na procura de uma estância madura de gente que sente o Orbe para além da mente.

Ajoelho-me a teus pés e rezo, estendo a minha mão até à ponta dos teus dedos, se me solto deixa-me elevar neste fado de asas inquebráveis, que na melodia dos ventos vou voando, vou planando.

Desço das alturas dos Anjos que nos cumes das montanhas oram, repasto-me das vontades subjacentes à concórdia e à discórdia, se sou louco? Também o foste! Acomoda-te no nosso atalho, assim vizinhos os dois deixamos correr nas veias, cicatrizes que divididas a meias desofuscam a sombra e dão brilho às nossas candeias.

09/02/2008

Aquém de nós

Se fosse possível eu não andava, corria, corria atrás de ti, tempo perdido. Tenho a certeza que te havia de encontrar, algures escondido no labirinto dos anos, dos dias, das horas, talvez, mas nesta actualidade de tempo usufruo desta convicção que o meu Sol me ia guiar até ti. – Passado.


Começava hoje a recuar na idade do erro, a remover o entulho, num alisar do caminho que circunda os meus olhos, desenrugaria o rosto e só “descansaria” em Agosto.


E em Setembro continuaria, os sete Mares eu sulcaria. Não me resignaria à vontade dos dubitativos Deuses e correria outra vez sem o esgano do amargo fel, massajaria as minhas pernas de bálsamo e o meu peito de mel, quebraria o aperto que me asfixiou numa vida assistida de lado errado. – Calado.


Do bichinho do betão, arrancaria num arriscado contra-mão, acordado nas horas que dormi a mais, recuaria de Avião de TGV e sei lá mais o quê?


O importante era chegar, aquele mesmo lugar, ali, onde todos os sonhos pararam, e os meus remos encalharam, onde no facilitar adormeci com medo de seguir o trilho, que me levava até ti. – Outra vida.


Chegado àquela linhagem, sem tenção na bagagem, levantar-me-ia do plátano onde hipnotizei a paz, desenterraria a rede das algas, exibiria o troféu nas minhas palmas, semearia pela terra a origem em farta faina e germinado, só assim poderia regressar aqui, e na verdade ser o que não fui. – Achado.

25/01/2008

Delírio Intimíssimo




Deixa-me ser, o botão da tua blusa, aberto pela mão que ousa fazer crescer as pétalas a norte do teu despir.

Deixa-me ser, o fecho das tuas calças, que pela magia do vento, já sem medo desse momento, ousado deixa-se cair.

Deixa-me ser, o teu dia que fluí. Na tua cama o teu jardim. No teu lençol aquela mancha.

Deixa-me ser, os lábios que íman aos teus. A tua frescura e o meu suor. O nosso contacto e o teu tremor.

Deixa-me ser, a tua ansiedade abstracta. O sal do teu Planeta cru. A tua querença e o teu nu. No esfregar que quase “mata” ser a unção de pastel de nata.

Deixa-me ser, o enroscar da leviandade de dois amantes esculpidos pela ansiedade. E num derreter de energias e sussurros, consumir mais do que dois dias de chorados, quase mudos.

Deixa-me perpetuar este momento, de quem não está fora e se encontra dentro, de parceiras se desuniram e sem impedimentos sentiram aquilo que fluíram.

Deixa-me ficar um pouco nas profundezas do teu Oceano. Reabrir os olhos e ver as tuas linhas de baixo acima, descobrir nelas o plano, desvendar o enigma, enganchar de novo a âncora em teu barco já sem quilha e num gemido final acostá-lo na minha ilha.

carrego o leme da saudade a preto e branco do meu horizonte!

espumo o delírio e esfrego o convés!

19/01/2008

Espirros


Na incapacidade de respirar as palavras faladas, desenrosco a cápsula desta botija de oxigénio e inalo as fragrâncias de um neutro espírito que enche de ar os meus pulmões, assim como faz em mim soltar espirros de pétalas de alma perfumada.

Nessas pétalas espirro o meu ser

Na importância de saber ouvir

Aquilo que os outros falam

Mesmo que estejam a fingir

O que as nossas vozes calam

Será que calar é consentir?

Nem próximo da verdade está

É o aroma que nos dá

Os sentimentos que não mentem

E a vontade de não ferir

Numa só boca para falar

E dois ouvidos para ouvir.

14/01/2008

CARIMBO




a tinta com que pinto as minhas palavras, é o antídoto que reverte a minha agonia. que me cura.


as minhas fugas vão sempre para o labirinto das almas onde escrevo, onde colecciono os meus medos, os meus anseios e os meus sorrisos.

a minha vontade de escrever é tanta que faço do papel o aconchego que me aquece e me manta.

não tenho assinatura nem carimbo normais. tenho a vontade de conhecer as palavras e nelas erguer a minha vontade!


©2008 jorge vieira cardoso e editorial negratinta

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