foto de marta ferreira *preenche o meu vazio...
dou o último passo que deixa para trás o mais baixo dos degraus da escada.
foi assim bem baixo que eu me senti quando, no umbral da porta espelhada do banco e no outro lado da rua estavas tu.
olhos vidrados, sem pestanas batendo, fixavas a minha silhueta, que no balanço do espanto te viu e corou.
pensei eu!
pensaste tu!
devia acontecer como nos filmes: correríamos um para o outro e de aperto sufocado rodaríamos numa dança ao centro de nós.
naturalmente “constipados” dos olhos que felicidade brotariam, beijaríamos nossas faces e nossos lábios em que, os teus pés nem no chão bateriam tal a pujança do bailado.
desilusão mútua porque nada disso aconteceu!
já que nenhum de nós tinha feito depósito do perdão, nem sequer pagamos caução, que pudesse redimir o erro do nosso chão…
apenas gradeamos amor nas nossas celas!
os pés queriam ficar!
as pernas desejavam fugir!
no entanto venceu o adeus mudo…
desfocaram-se os olhares!
rodopiaram os troncos!
e voltaram-se as costas…
talvez dois, três, quatro passos e nem mais!
o freio actuou!
ABS estacou!
em simultâneo, como se um duelo de morte se tratasse, viramo-nos um paro o outro, fixamo-nos com os olhos chamejantes de paixão e, com a destreza das mãos que procuram as armas, disparamos o amor.
feridos de uma morte que morreu, curados no rodopio do céu, demos corda aos sapatos, que rasparam excessos. a rua chiou, sob os pneus de um automóvel que reclamou!
quase nos atropelou!
acendemos a luz ao perdão!
depositamos caução!
que a teimosia pagou!
ao som do buzinão, o nosso bailado começou!!!
e não digo mais nada!
*propositadamente em minusculas...
*todos os direitos reservados a jorge vieira cardoso
7 comentários:
obrigada pelo comentário :)
no entanto aquilo que sinto é aquilo que sai sob a forma das palavras que eu escrevo... nem sequer penso quando estou a escrever, sai tudo disparado e morre no ponto final.
tenho fases da vida que se transmitem através dos textos: já publiquei textos sobre o amor quando a felicidade me bate à porta mas quando a porta se fecha e me encerra nesta sombra, parto para textos mais agressivos. são sentimentos e inspirações precipitadas.
Obrigada!!!
há situações que acontecem as quais foram já idealizadas, foram já sonhadas...se depois não acontece como sonhamos será uma desilusão...bom é qdo a dança começa...:)
kiss
Belo duelo. Uma prosa poética com muita sensibilidade e bem ritmada.
jinhos
Rosamaria
e que a dança não pare, o amor não sucumba, e a felicidade, essa, seja eterna!!!
que bonito momento de escrita e que tanto sentimento a encher-me o peito.
Gosto de aqui vir para me sentir viva.
Um beijo do tamanho do mundo*
saudade
ah e gostei das miniscúlas, faz-me lembrar alguém. Margarete
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