25/04/2009

[EGO]ISMO

Hoje o chamamento leva-me pelo caminho da cura ao…
[EGO]ISMO
Volátil, nas palmas de um sonho as plumas descem ao trigal.
Quem me dera que o sol não mais se pusesse! Dormiria imortal na sombra do extenso gemido em restolho virgem, esvoaçaria os olhos em direcção ao colosso de uma estrela acabada de desenhar num azul baldio da mente. Levantaria voo até ao centro da imensa cor.
Levar-te-ia comigo … audácia celeste em forma de mulher!

FINALMENTE A CAMINHO DA CURA


Cresce o sol em que o dia liberta a claridade, deambulando sobre a encosta crescente ameaça o raio descobrir o cume da fraga pálida e partida. Resmunga o solo debaixo dos pés, que aqui e ali chapinam os charcos. Libertas da obscuridade serpenteiam outras águas descidas do monte até á beira-rio, travadas em roubo pela habilidade do homem, que as domesticou através de um tubo cortado em chanfre para dar de beber à sede, onde eu bebi o nosso mundo.
Nem o outeiro desencanta o destino do óculo raiando que sem servo-freio segundo a segundo avança em direcção ao alto.
Bem era preciso! Dos dias gélidos o corpo quer esquecer. Que “bom” seria se o tempo curvasse perante o mando dos homens! Para trás nem olho se foi o passado que ficou no avanço dos últimos 150 metros. À frente o emaranhado de casas cresceu, telhados vistosos, alaranjados são a cobertura de uma dezena de casas modernamente construídas. Alguns garotos em corrida soltavam grunhidos de satisfação pelo sol que os trouxe cá para fora. Um cão rafeiro ao sentir a presença estranha de um vulto descendo a colina, elevava-se no ar em tom intimidador, não fosse a grossa corrente amarrada ao pescoço e poderia ser uma ameaça para mim, ou talvez se acobardasse e apenas se chega-se para cheirar as minhas botas. Desta vez não venho passar só uns dias, porque mais uma vez tu me esperas! Paro e olho porque me apetece olhar, porque me apetece parar para inspirar do teu perfume, oxigénio das savanas.
Regresso ao caminho em que os xailes pretos se apressam reclamando um pedaço de raio no encosto da parede caiada. As línguas ferrugentas untam-se com as novidades de quase meio ano na sombra amornando-se da lenha queimada.
Abril a desaparecer num embrulho da trouxa húmida de bolor dos dias que findam. De saudades apenas fica o aconchego dos lençóis acomodados nos estendais pingantes. É de ver as velas hasteadas rumando a Maio!
-Olha que é ele?! O novo dono da casa! Diz o cochicho da velha, como rezando uma ave-maria. -Será que é mesmo? Por entre as gengivas já secas de uma boca sem lábios em surdina alguém questiona.
-Vem com certeza ter com nova vizinha, a Dona Sandra, como da outra vez! Será que são casados? Será que são amantes?
Bom dia acompanhado de um sorriso premeiam os bateres dos calcanhares alongando a minha caminhada até à orla do rio. O caminho é o mesmo, apenas as eras cresceram, mas continua com a mesma inclinação sonhada em rebolo anos a fio.
Aposto que todos os torcicolos da aldeia partiram os seus pescoços! Se eu tivesse olhos que vissem para trás constataria o aproximar dos vultos. Devem pensar que sou louco em voltar para a casa “assombrada”! Mas ainda não viram nada! Húmido o manto verde fumega como ópio enquanto vai embriagando a minha sanidade, deixo-me cair e rebolo numa carícia de perfume intenso, verde. Só paro no travão que bloqueia a minha passagem, levanto os olhos, deixo cair uma lágrima e abraço a nossa árvore, por entre as virgens folhas espelham-se raios como salva de prata abençoando a minha chegada. Cansado das curvas apertadas do caminho, enrosco-me num aperto sem fim à grandeza deste pedacinho de chão. Sinto as pisadas, sinto os murmuros, sinto a agitação de todo o encanto e deixo que mil olhos me vejam adormecer.
E na pequenez tão grande da espera, chegas ao centro do meu intenso sentir, és o enleio da película com que entretenho o meu sonho. Diva das causas antes perdidas e hoje ganhas. Musa da actual capacidade do meu sorrir no interior do teu céu. Aroma do suspiro com que me levanto a cada dia, em que hoje eis-me ancorado no teu regaço.
Na minha chegada ao eterno lar devoto-te um pedido cristalino…dança para mim…
Dança … ao balanço do corpo inócuo, que na elementar fragrância de um sussurro desfalece no sopro do coração…
Dança…pelo balanço idóneo, pelo som de onde tombam partículas da alma, em que na beleza do ensejo resvala inflamando-se em fábulas…
Dança comigo…na beleza corporal, no desaperto húmido de pele, na fricção atenta de quem respira por mim, para que as palavras saltitem na vertente descalça das páginas. Dança comigo na cor do baile dos anjos!


20 comentários:

SAM disse...

Um texto espetacular! Li sorvendo este cálice que embriaga pela beleza poética. Obrigada



Grande beijo!

Graça disse...

Ler-te, neste teu caminhar em direcção a..., é poder imaginar que o Sol não se põe mesmo ["Quem me dera que o sol não mais se pusesse!"]. Só assim posso compreender a Luz que difundem as tuas palavras.

E quanto mais te leio, mais gosto.

Um bom domingo e um beijo meu.

Graça

isabel mendes ferreira disse...

a dança que se deseja dançável até ao fim....


sem egoísmos estéreis....antes com o profundo humanismo que nos fará crescer.


boa tarde J.

e



obrigad.

EDUARDO POISL disse...

O mar me ultrapassa.
Mas ondas haverão de contar
Aos ouvidos que lá pousarem
Que um dia sonhei no mar.

O céu não vai se importar
Quando eu monge de meu hábito partir.
Mas estrelas enquanto restarem
Hão de lembrar
Que um dia me puseram feliz.

A terra , é fato, há de me subtrair.
Mas a árvore que me deitou raiz
E as cores
Que em meu tempo colhi
Estas eu levo comigo
Ninguém há de tirá-las de mim.

Fernando Campanella

Desejo um lindo final de semana com muito amor e carinho
Abraços Eduardo Poisl

. intemporal . disse...

Maio, o primeiro dia, o dia um, um dia, este.

Celebra-SE aquele que tem algo a fazer, ou que há tanto faz [...]

Maio também de Maria, de re.conciliação.

Maio de colher, a semente.

íssimo _______________________________ .

sublime este teu espaço [meu].

. intemporal . disse...

F
e
l
i
z

d_____i_____a

d
a

M__________Ã__________E

hoje e sempre.

íssimo.

Poemas e Cotidiano disse...

Jorge,
Que texto mais profundo e cheio de significados. Em cada palavra, um sininho dentro de mim, relembrando meus proprios sentimentos!
Um beijo carinhoso
MARY

~pi disse...

belo des

prender

( a entrega do corpo

todo

à dança

do

coração,


[ palavras de música,

take this walz,:)



beijo




~

Serena Flor disse...

Este texto está maravilhoso...parabéns!
Passando por aqui pra deixar um largo sorriso e um beijo bem grandão pra ti viu!

. intemporal . disse...

amigo Jorge

que tenha sido de sorte o dia de hoje.

e saio. a torcer por TI.

como sempre.

há tanto tempo tanto.

abraç.íssimo total

Anónimo disse...

:) Gosto de te ler.

*

Andreia disse...

~ Há dias que mais ninguém importa... ~

B*

. intemporal . disse...

querido Jorge

venho afagar-TE o ego, há tanto que ler-TE é sonhar-TE a des.governo.

:))

um abraço amigo.

Daniel C.da Silva disse...

AMIGO Jorge

Como não posso comentar o post mais actual porque nao deixaste a funcionalidade activa, escrevo neste reportando-me ao outro.

L I V R A - T E de saíres daqui.

ATÉ JÁ

Abraço de um Lobinho que preza Amigos ainda que virtuais... ou nem tanto...

Hugo de Oliveira disse...

Excelente texto!

parabens

SAM disse...

Querido Jorge,

“ estrada… congestionada de fissuras, rampeadas pelas incolores veredas adjacentes ao [EU].!"

Lindo...Entendo. Que seja breve a sua ausência e imediato o teu sorrir.


Beijos

Graça disse...

Querido Jorge,

Queria comentar o teu dia 13 de Maio... já o tinha lido... hoje, voltei, à conta de outras palavras: "deixei de entreter palavras (...)humedecido pelas intempéries (...)"

Não sei se bem compreendi o teu "até breve"... que o breve seja já e sempre. E que pudesse dar-te um sorriso meu!

Beijo com carinho

Fragmentos Betty Martins disse...

.____________querido Jorge





.como é sublime o teu sentir___...meu amigo



________________logo
á direita
entre o banco e as árvores
.entre a matéria.e.o.espaço____transformados

.o corpo


ausente como uma cidade
__cujo desenho.num.grito



.sentir




no itinerário das escadas

a dança reflecte.a.noite
caligrafia presente


______na poeira como cal para


sentir.viver o branco da luz________...




__________///








beijO_____ternO
bFsemana

EDUARDO POISL disse...

Pensamos demasiadamente
Sentimos muito pouco
Necessitamos mais de humildade
Que de máquinas.
Mais de bondade e ternura
Que de inteligência.
Sem isso,
A vida se tornará violenta e
Tudo se perderá.

(Charles Chaplin)

Hoje passando para desejar um final de semana com muito amor e carinho.
Abraços do amigo Eduardo Poisl.

isabel mendes ferreira disse...

belíssima avenida que desejo breve e atravessável. clara. límpida.



feliz.


abraço. Jorge.


grato.

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